POESIA | O Perfume de Ismênia

Seu Sandro Câmara > @seusandro
2 min readSep 25, 2019

Esta poesia, fiz na época da faculdade, creio que ainda cursando Letras na UFPE, meio que de encomenda, para uma amiga. Disse que havia uma poesia com o nome dela, que me lembrava dos tempos da Literatura no Colégio de Aplicação ainda. Errei por pouco: o nome da poesia era Ismália de Alphonsus Guimarães. Resolvi, então fazer com que uma, afinal, existisse e o resultado foi esse aí:

>>> O PERFUME DE ISMÊNIA ( por Sandro Câmara > @seusandro )

HÁ PERFUMES QUE SÓ SE SENTE COM OS OLHOS.
Destes, por mais que se busque o cheiro
nada a que é bom remete
e não importa se é o último
ou, muito menos, o primeiro
pois, se não importa o cheiro,
o vidro, que é forma
(casca vã, esquálida)
chega o dia que finda
e, donde havia beleza, deforma.

HÁ OUTROS, PORÉM, QUE SÓ SE SENTE COM O TOQUE.
Pega-se, na tentativa inútil
de sorver tão bela essência.
Breve e insensata busca
onde a melhor conseqüência
é a fruição, por vezes brusca,
e o gozo, por vezes fútil,
de se eternizar uma paixão.

HÁ, AINDA, ALGUNS PERFUMES QUE SÓ BEBENDO.
Tomando-os goela abaixo
descendo que nem cachaça
talvez por uma desgraça
(ou algo pior que o valha)
descem a contra gosto
pela garganta não inocente
de quem tem a esperança
de sentir um amor decente.
Amor este que não engana
e não afana nada de bom
que, muito pelo contrário,
é o ensaio de um paraíso
que um dia foi esquecido
por um Adão abestalhado
que caiu nos encantos dum safado
e trocou Eva pelo pecado.

HÁ PERFUMES QUE, PELO CHEIRO, SE SENTE.
E, estes, claro, são maioria.
Portanto estes perfumes
ora, quem diria,
por vezes substituem
estrumes de rebeldia
mas, em sua grande maioria,
apenas inebriam, fazem dia
onde a nuvem, cinzenta de tempestade,
presente e imponente se fazia,
pois não há nada melhor
que o suor que a luz do dia
e, só ela, propicia.

POR MAIS ESTRANHO QUE SEJA, HÁ ALGUNS QUE SÓ OUVINDO.
Pelo som, pelo sustenido,
de uma fragrância de palavra
ou do mais baixo gemido
(que se escuta, muito menos
usando-se um par de ouvidos)
sabe-se se é verdadeira
as essências que possuem
na fórmula derradeira
daquele último frasco
que o boticário fez
na mais cautelosa espreita
de um dia encontrar a dama
que, para usá-lo,
fosse perfeita.

E o perfume de Ismênia?

( pode perguntar quem ler
esta poesia ainda:
que visão tem ele?
que toque sorve?
que gosto tem?
que cheiro possui?
que som encorpa em si? )

RESPONDO, LEITOR(A) AMIGO(A):
As sensações, estas que lembrei
e se fizeram presentes ao escrever,
não têm a mínima condição, sei,
de, com segurança, descrever
o quão bom vem a ser
o perfume de Ismênia…

--

--

Seu Sandro Câmara > @seusandro

Se for pra ser algo, é poeta que aspira realizar uma visão naturalmente pura. Aluno de Lama Padma Samten /CEBB, Koho Sensei /ZPI-ZPO e Yakusan Sensei /Soto Zen.