E tem isso de Polidiversidade, é?

Seu Sandro Câmara > @seusandro
3 min readSep 25, 2019

Polidiversidade: O que é? Onde vive? O que come? Como se reproduz?

Este tema daria um bom Globo Repórter, né? Mas uma questão de saída para conversamos sobre Polidiversidade é responder uma pergunta que pode surgir: falar Polidiversidade não seria o mesmo que subir pra cima?

Em princípio sim, claro. A utilização do termo de forma redundante é proposital. Se você ouve o termo “Parada da Diversidade”, o que vem à sua mente? Parada Gay, Diversidade Sexual e de Gênero, e por aí vai… No entanto, a Diversidade abrange muitas outras possibilidades.

Ato no Marco Zero, centro do Recife/PE, em ocasião do aniversário do Fórum DIÁLOGOS da Diversidade Religiosa em Pernambuco

Pessoalmente, em Recife, tive a experiência de participar ativamente por alguns anos do Fórum DIÁLOGOS da Diversidade Religiosa em Pernambuco, desde do seu lançamento em 2012 até 2017, quando me mudei do estado. Conheci muitas pessoas maravilhosas, de muitas cores e tradições diferentes da minha que, assim como eu, estavam dispostas a trabalhar juntas pela Diversidade Religiosa, enfrentando as questões da Intolerância e lutando pela efetivação de um Estado Laico de fato e de direito. Algumas delas, me relaciono até hoje, cultivando boas e verdadeiras amizades. No entanto, a prática e a vivência destes diálogos me fizeram perceber uma coisa, que pode até ser óbvia pra você: a Intolerância Religiosa não se dá por conta da Religião.

Quem normalmente ataca as religiões de Terreiro, de Matriz Africana e/ou Indígena ( como Candomblé, Umbanda ou Jurema e Toré) muitas vezes, na grande maioria delas, não conhece nada sobre estas tradições. Não sabem nada sobre Orixás e Caboclos, nada sobre suas mitologias, cosmovisões e fundamentos. O preconceito passa majoritariamente por questões de raça/etnia (por elas terem muitas pessoas pretas e indígenas participando e liderando), de classe (por ter muitas pessoas pobres), de misoginia (pelo fato das mulheres e do feminino ter um lugar de destaque na essência destas tradições), de homofobia (já que pessoas LGBTQI+ costumam ser bem acolhidas e até liderarem muitos centros e espaços destas tradições), de cultura/nacionalidade/territorialidade (já que as mais atacadas tem, em todos os casos, suas raízes em Nações Africanas e/ou dos Povos Originários de nosso território e terem se desenvolvido e disseminado em regiões como o Nordeste, por exemplo) e assim por diante.

Logo, percebi que não dá pra tratar de Diversidade Religiosa sem encarar o fato que o olhar deve ser sempre, em todos os casos, plural, multidimensional e interseccional. Qualquer coisa diferente disso está fadada a ser sectária, parcial e limitada. Se quisermos cultivar uma visão e ação amplas, com possíveis resultados mais efetivos e abrangentes, devemos ter atenção plena à isso sempre.

Ainda que meu lugar de fala não me permita ver com os olhos de todas as diversidades possíveis, estar consciente que o que digo e o que vejo, o que sinto e o que tenho de experiências em minha realidade (bolha de realidade) está limitado sempre ao que o meu lugar de fala proporciona, por mais empático e compassivo que seja o olhar que cultivo e as ações que tenho, é fundamental para andar no mundo. Ser um homem branco, cis, hétero, vindo de uma família da classe média do Nordeste, tendo nascido e me criado no Nordeste, me coloca numa posição de conforto e privilégio diante da grande maior parte das pessoas brasileiras (e do mundo).

O que digo, o que penso e que faço está sempre limitado à isso, no entanto, isso não impede que estes limites sejam ampliados através do diálogo, da escuta ativa e do trabalho conjunto, em aliança pela construção de ambientes mais favoráveis à todos/todas/todes.

E você, o que sente sobre isso? Manda teus comentários e sugestões por aqui e pelas minhas redes sociais e vamos conversando mais sobre isso, tá? Em breve, alguns textos sobre Masculinidades, Poesias e tudo mais que tiver uma necessidade de ser publicado e compartilhado vai aparecendo por aqui.

Sigamos juntos! Que tudo possa ser auspicioso!

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Seu Sandro Câmara > @seusandro

Se for pra ser algo, é poeta que aspira realizar uma visão naturalmente pura. Aluno de Lama Padma Samten /CEBB, Koho Sensei /ZPI-ZPO e Yakusan Sensei /Soto Zen.